Desconhecemos como o universo conspira a nosso favor… Às vezes somos sobressaltados e encantados pela vida que acontece logo ali, bem na frente dos nossos olhos, nos arrebatando logo ao amanhecer... Para logo mais nos encantar para sempre...
Era dezembro... Era um desses meses onde estabelecemos vínculos afetivos sem ao menos entendermos como e porquê... Somos movidos por esta sensibilidade inquietante que permeia primeiro, nossos olhos, depois nossas vontades mais secretas e sagradas.
A minha devoção pela vida era silenciosamente desenhada em canvas branca para conceber o que eu, homem de sonhos e príncipe das marés ousava sonhar e encaminhar-me.
Eu estava em trânsito...
Eu estava igualmente pronto para encontrar o delírio de Madonna e sua turnê pelo Brasil.
Tudo parecia perfeito, e na verdade, estava... Só compreendi isso, bem depois, o que me aguardava o que me espreitava silencioso, se instalando lentamente entre meus braços e depois definitivamente em meu coração para apos sem mais delongas em minha alma permanecer para sempre.
Comigo... Também ela – Moira, mulher de temporais, de vendavais e de grandes passeios pela vida e pelo afeto... Moira, mulher de um homem só... Impassível e belamente singular, descansava ao meu lado com uma tranqüilidade perturbadora porem encantadoras... Ambos nos encaminhamos para viver (sem saber) o amor em toda sua plenitude e intensidade.
A nossa frente, São Paulo, entre acido & mel descortinava... Recebia-nos impávido, colossal, um Titã em seu reinado absoluto... Abria os portais para que adentrássemos... para que pudéssemos sem medo, viver uma das experiências mais singulares de todos os tempos.
O encontro de almas estava prestes acontecer... Prenunciava no ar, na bagagem, no desejo de encontrar o inusitado... de encontrar em mim, eles, nos. Um encontro de iguais.
Eles eram laços de sangue de Moira... Eles seriam nossos anfitriões... Seriam mensageiros de luz... Seria também o portal onde seres iluminados se comprazem, se fundem e estabelecem a luz para o mundo.
Chegamos depois de experimentar o transito caótico... Depois de conviver com expectativas e acasos...
Depois dos cumprimentos, dos modos estudados, bem depois, o encontro se deu...
Ele, Ângelo Miguel a principio parecia apreensivo... Parecia um homem no corpo de uma criança... Ele parecia amável e era. Abraçou-me com modos estudados... Com um respeito comedido de Grandes Eras... Era um encontro de guerreiros sagrados.
Ângelo Miguel encontrava Fernando Lispector... Eu sem saber, sabia que eles, nós, estávamos prestes a transcender as explicações milenares dos encontros acordados no universo celestial e espiritual.
Ângelo Miguel cumprimentou-me com um aperto de mão e um abraço... Ajudou-me com a bagagem e talvez, eu, Fernando Lispector, pressentia certa tensão no ar – cúmplices e semelhantes sabem-se envolvidos por algo maior e melhor - Distantes de qualquer compreensão razoável ou possível.
Sabíamos que algo ali se desenvolvia – como uma teia, silenciosamente tecida por um elemento divino.
Este era o inicio do irremediável e inevitável... Este era e é o grande encontro marcado. Assustadoramente o imprescindível ainda a prenunciava – Joana D’arc. de atitudes e uma irreverência aristocrática.
Lembro-me como Dália chegou... Lânguida e preguiçosa... Parecia fluida, parecia ocupar todos os lugares e ao mesmo tempo nenhum deles. Era iluminadamente bela... Parecia rainha de um reinado longo e absoluto.
Dália cumprimentou-me depreendida... Leve... Abraço longa e vagarosamente como se depositasse toda sua leveza em torno dos meus braços..Eu abraçava nela a vida que estava prestes a se instalar em nossos cantos mais íntimos e imprimir em minha historia pessoal a verdade de todos os encontros neste, que reunia em si todos os outros.
Ela abria uma nova porta em mim, talvez não, uma nova porta, mas descerrara uma a tanto lacrada e quem sabe ocultada para não revelar o conteúdo nela guardada.
Embora eu, Fernando Lispector não fosse uma pessoa facilmente impressionável; sentia-me atraído pelo desconhecido, tocado de todas e de nenhuma forma especifica; sabia que viveríamos este reencontro selado pelos deuses.
Dália e Ângelo Miguel pareciam siameses embora distintos entre si, guardavam uma semelhança assustadoramente linda. Não era apenas o mesmo sangue que percorria nas veias deles, mas um amor transcendental, o qual seria capaz de curar a dor do mundo.
Sim, eles – Dália e Ângelo Miguel entraram na minha vida para sempre, pela porta da frente. Eles nem mesmo desconfiavam ou sabiam. Nem tampouco eu.
Sabiam-se entregues ao encontro de eleitos, de escolhidos. Sabiam-se envoltos nestas esferas superiores onde somente os nomeados podem adentrar e permanecer para desfrutar desta escolha de desprendimentos e ações despojadas. Sabiam-se cúmplices corroborando a mesma verdade.
Estas quatro pessoas estavam destinadas a viver tamanha grandiosidade. Percorriam seguras entre os braços e historias, entre segredos & semelhanças.
O riso solto, o encontro compartilhado, os olhares, as descobertas encontradas e reveladas desenhando intimamente uma historia que transcende as obviedades costumeiras.
Creio que comecei amá-los antes da garoa, antes mesmo que eu viajasse para São Paulo, antes mesmo, ate de encontrá-los em suas respectivas e libérrimas existências.
Havíamos optado pela alegria selvagem e infinito lume da vida. Ângelo Miguel, Fernando Lispector, Dália e Moira haviam ha. muito tempo desejado este encontro embora desconhecessem quando e como aconteceria.
Vivíamos juntos uma historia possível e única. Despertávamos querendo encontrar uns aos outros, queríamos saber que não havia sonho algum e tudo aquilo realmente estava acontecendo na frente dos nossos olhos e em nossos corações.
Recitei mantras e ajoelhei-me agradecido e comovido pela a oportunidade de viver a grandiosidade deste encontro, dessa manifestação pura e verdadeira deste amor, deste sentimento que se despoja de adjetivos ou pseudo-definições.
Compartilhei minhas historias, deitei minha cabeça nos ombros e no colo e adormeci com sentimentos justos e revelei meu amor maior e meus segredos mais sinceros.
Eles, em suas particularidades e singularidades transitariam absolutos e distintos no universo de cada um de nos.
Algo em nos havia sido tocado e despertado. Sabíamos que onde quer que estejam nos amaríamos e seriamos gratos para sempre.
Nossos caminhos iriam sempre se cruzar, em pensamento, em presença e sintonia. Cruzar-se-iam porque eram merecedores. Ausentavam-se destas insuspeitas obviedades. A verdade prevaleceria, tanto nos corações como em suas almas.
Faríamos outros caminhos, outras viagens e tantas outras experiências tomariam parte em nossas historias pessoais, pois sabíamos que éramos seres privilegiados, sabíamos que beberíamos juntos e celebraríamos o pão da vida. Nossa fome de viver seria também a fome deste encontro.
Estaríamos impressos feitos tatuagem em nossas almas – Águas rolariam e também pedras... O tempo seria o nosso senhor, entretanto seriamos donos de nossas próprias estações. Todos os mântras e preces seriam recitados e quando absortos em deleite e entrega, voltaríamos a nos encontrar, encontrando uns nos outros esse amor de vida e gloria, de gigantes que amam mais e melhor e por fim, faríamos um marco no tempo refletindo sinais de eleitos e escolhidos para vivê-la a alegria em nossas e historias pessoais.
*Era dezembro... Lá fora chovia e embora verão, fazia frio, mas somente lá fora, pois em mim o calor confortava e sarava todas as dores anteriores.
gilbert antonio
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