Não saberia definir coerentemente como pessoas se encontram e nem tampouco como se permeiam almas & cumplicidades. Não obstante, algo em mim sabia que elas, meninas e mulheres começavam caminhar uma em direção à outra. Ambas à mercê desses encontros inevitáveis, dessas febres que se concentram intranqüilas; primeiro nas têmporas, depois se instalam silenciosas entre os braços e entre as pernas domesticando o mais selvagem de todos os desejos.
Nem tampouco, eu imaginava que seria o elo entre este encontro – A ponte a conectar almas femininas que desejavam encontrar em si e na outra as mesmas ânsias.
Sempre soube que pessoas semelhantes criam associações distintas e se atraem sem nem mesmo determinar como e nem quando...
Lá fora... O vento prenunciava algo involuntariamente novo e singular... Lá fora... Num país não tão distante assim... Elas encaminhavam-se para o inevitável... Para essa teia tecida em desejo & espera com forças de um furação.
Flora sempre fora uma mulher de talentos múltiplos, de livros, de pensamentos, de sorriso impressivo e raramente se impressionava facilmente com pessoas e coisas. Flora, consistente e ávida, retornava de Paris depois de dez anos. Retornara tentando resgatar e ou retomar raízes, mal sabia, que retornava para encontrar a si e a sua metade. A simbiose e sinergia estavam lançadas.
A bela fera Flora guardava em si os olhares de grandes conquistas, do berço esplendido das descobertas... Havia estudado povos, havia dissertado sobre guerras & tratados... Havia também, orientado sua história pessoal e intelectual para um novo olhar sobre relações humanas...
Na verdade, eu sempre soube que Flora e eu compartilhávamos de sensações e compreensões mútuas embora nunca houvéssemos discutido a cerca destes temas por vezes espinhosos e outras vezes, nem tanto.
Diana, uma mulher destemidamente sedutora. Olhos demarcados por uma profundidade desconcertante. Diana parecia ter modos estudados e uma elegância perturbadora. Transitava perceptível por pessoas & eventos. Uma certa lascívia percorria seus dedos quando fumava(embora eu não ache atraente, em Diana era).
Quando a encontrava na noite, sentia-me irremediavelmente tocado pelos movimentos frenéticos e suaves que parecia mais um ritual do que uma coreografia. Destemida Diana dançava para nos lembrar que apenas éramos humanos enquanto ela, sem querer ou ser, era algo definitivamente Divine.
Os olhos que Diana emprestava ao mundo eram compostos de ousadia, de livros & malditos. Definitivamente ela não era uma pessoa comum ou normal – Pessoas normais são chatas e previsíveis e decididamente Diana não era.
Como você sabe, ou presume, ou ainda desconhece totalmente, Flora e Diana estavam prestes ao encontro, ao arrebatamento e a entrega.
Eu, nada sabia... Apenas pressentia e me encaminhava para fazer a minha parte... Para aproximar duas pessoas que já haviam se encontrado.
Eu ainda ansiava por um sinal, talvez algum tipo de prova ou constatação que comprovasse tal proximidade do inevitável e irremediável. Abri, então, o livro de Caio Fernando Abreu, no conto Natureza Viva e constatei que o acaso não existe, de fato:
“Como você sabe, dirás feito um cego tateando, e dizer assim, supondo um conhecimento, faria quem sabe o coração do outro adoçar um pouco até prosseguires, mas sem planejar, embora planejes há tanto tempo, farás coisas como acender o abajur do canto depois de apagar a luz mais forte, criando um clima assim mais íntimo, mais acolhedor, que não haja tensão alguma no ar, mesmo que previamente saibas do inevitável das palmas molhadas de tuas mãos, do excesso de cigarros e qualquer outra coisa como um leve tremor que, esperas, não transparecerá em tua voz. Mas dirás assim, por exemplo, como você sabe, sim como você sabe, a gente, as pessoas, infelizmente têm, temos, essa coisa, emoções, mas te deténs, infelizmente?
Então dirás rápido, para não desviar-te demasiado do que estabeleceste, qualquer coisa como seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente, insistirás, infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos – emoções. Meditarias: hás pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra. Há os níveis-não-formulados, camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumprem, e sobretudo emoções. Que nem se mostram. Por tudo isso, infelizmente, repetirás, insistirás, completamente desesperado, e teu único apoio seria a mão estendida que, passo a passo, racionas com penosa lucidez, através de cada palavra estarás quem sabe afastando para sempre. Mas já não sou capaz de me calar, talvez dirás então, descontrolado, e um pouco mais dramático, porque meu silêncio já não é uma omissão, mas uma mentira. O outro te olhará com seus olhos vazios, não entendendo que teu ritmo acompanharia o desenrolar de uma paisagem interna, absolutamente não-verbalizável, desenhada traço a traço em cada minuto dos vários dias e tantas noites de todos aqueles meses anteriores, recuando até a data, maldita ou bendita, ainda não ousaste definir, em que pela primeira vez o círculo magnético da existência de um, por acaso banal ou pura magia, interceptou o círculo do outro. (...)
Não sei se fui eleito e nem tampouco escolhido para gerar tal aproximação, apenas sabia de alguma forma, em meus contornos mais íntimos que Diana e Flora estavam prestes à viver algo único e inominável,então, sem parcimônias, aceitei meu desígnio...
Lembro-me quando nos encontramos. Eu, Diana , Flora e Miguel.Todos, ou quase todos envoltos pelo círculo mágico e magnético de um encontro de iguais.
Estávamos num bar... A música... O canto escolhido... Os drinks... Os olhares... A tensão no ar... As apresentações... Seria trágico se não fosse mágico e foi...
Não sei se fui eleito e nem tampouco escolhido para gerar tal aproximação, apenas sabia de alguma forma, em meus contornos mais íntimos que Diana e Flora estavam prestes à viver algo único e inominável,então, sem parcimônias, aceitei meu desígnio...
Lembro-me quando nos encontramos. Eu, Diana , Flora e Miguel.Todos, ou quase todos envoltos pelo círculo mágico e magnético de um encontro de iguais.
Estávamos num bar... A música... O canto escolhido... Os drinks... Os olhares... A tensão no ar... As apresentações... Seria trágico se não fosse mágico e foi...
Diana e Flora se olharam longa e profundamente... Havia um misto de tensão, tesão & entrega...Não sei precisar.
Sei, sabe também Miguel, que elas, aquelas garotas, aquelas mulheres sabiam-se cúmplices, sabiam-se semelhantes e foram.
Naquela noite, naquela fração de segundos o mundo parecia ter parado, parecia reconhecer os anjos enviados para celebrar o amor e sua infinita bondade e igualdade.
Diana e Flora encontravam-se e amavam-se, amando uma na outra esta semelhança, esta história de amor & entrega. Esta história escrita entre beijos e salivas, entre furtivos amassos, entre portas fechadas & adrenalina.
Enfim, entre o inevitável & imprevisível encontro de iguais.
Lá fora e aqui dentro apenas a certeza que o amor havia sido homenageado.
Encantado eu voltaria então, acreditar no amor, mais uma vez.
Gilbert Antonio
Word Maker
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2 comentários:
Passei por aqui, sabe... muito 'interessante'heheheheh
'o amor havia sido homenageado', muito lindo, muito profundo. Vc é demais! Adoroooo!
muuuito bom o texto! não é o primeiro que eu acho ótimo né,e tenho certeza que não será o último.
se cuida Grabber! sabes que és muito importante pra mim! (:
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