sábado, 24 de maio de 2008

O encanto do caos




A nossa geração perdeu a coragem, a pureza e a força. Almas modernas estão nuas e morrem esfomeadas. A nossa vida se arrasta penosamente em abnegação; mesmo o mais corajoso tem medo de si próprio. Fuga de qualquer espiritualização dos sentidos. Sacrifício estéril do espírito à ignorância, ao vulgar, ao banal. A pulsação da felicidade que bate dentro de nós, está ficando indolente. Nossos membros esmorecem, nossos sentidos se arruínam. Degeneramos a bonecos feios e somos perseguidos pela lembrança de paixões fervorosas, as quais nos metiam medo. São as metas doentias, os falsos ideais do nosso tempo. Ciúmes de coisas mortas. O traje de nossa época é abominável, sombrio, pesado. Nós nos desfazemos de fatos de fatos maçantes, gracejos usados. Podemos aturar violência brutal, podemos até nos deleitar com ela, mas a razão brutal é insuportável. Temos compaixão como todos, só não temos com o sofrimento, já que ele nos parece muito feio, vergonhoso e torturante. Existe algo de doentio na compaixão com a miséria em nosso tempo. Silencia-se muito pouco sobre a miséria da vida. O pecado original do mundo é que a humanidade se leva a si própria muito a sério, que ela toma demais propósitos fatídicos os quais resultam em experiências presunçosas que pretendem influenciar as leis naturais.A origem dessa seriedade desencontrada é pura vaidade. Às vezes ela nos proporciona um tipo de excitação estéril, voluptuosa, que exerce um certo estímulo na condição de caráter dos fracos. As verdadeiras tragédias da vida sucedem de uma maneira tão antiartística, que elas nos magoam por seu absurdo ridículo, por sua absoluta falta de estilo. Como todas as coisas banais, elas agem sobre nós com força bruta, e nós, em revolta eterna, nos opomos a isso. De vez em quando, no entanto, acontece um espetáculo em nossa existência que encerra dentro de si os elementos artísticos da beleza. O presente momento é um registro de um acontecimento desses. A natureza de sua beleza (fáustica, que busca), não se orienta em sua veracidade apenas em nossa percepção para efeitos dramáticos - O instante, que deve demorar-se, por ser tão belo. De certa maneira nós nos reconhecemos e somos encantados pelo esplendor destas descobertas. A estagnação da mente produz feiúra e gordura. As coisas se arrastam; o seu propósito é oferecer-nos o mundo todo como sacrifício. Elas nos lançam valores, nos apresentam os horrores da eternidade. Beleza! O seu encanto é que ela é eterna...Abafada, pesada, artificial sem compreensão para com a arte ...O sacrifício dela própria no susto trivial do tempo. O mistério do romantismo, da paixão e do amor, o belo na morte. Afeto e alegria no som que se perde nas profundezas. Se tocarmos a verdadeira grandeza da existência em toda sua solidão, então estamos condenados à perdição, a desvanecer nos inatingíveis paraísos artificiais que se coalharam em arquétipos de expressivos espíritos humanos. Vivemos em um tempo que raciocina demais para poder ser feliz e bonito. As vitórias não são mais conquistadas, elas nos são entregues sem sacrifícios. É chegado o momento em que devemos optar: curiosidade pelo infinito lume da vida, prazeres delicados, alegrias selvagens, ou o peso torturante da vergonha eterna. Beleza - opte você! Faz-se silêncio

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