segunda-feira, 3 de janeiro de 2011


Conexões imperfeitas & Vinganças requintadas

A vingança é uma espécie de justiça selvagem.

Francis Bacon

Definitivamente há certas sutilezas escancaradas e inconscientes vinganças nas relações humanas. Há muito amor amado para que não se possa odiar depois. Tais sutilezas estão entrelinhas, subsistem e coexistem com tal requinte de crueldade. Disfarçadas ou não, se esgueiram sutis e comungam de prazeres que demandariam sessões homéricas de psicanálise.

Parecemos vingar-nos, primeiro, porque se pôs fim à nossa separação, depois porque o nosso vazio não foi preenchido, em seguida, porque não fomos correspondidos e nem tampouco nos foi dada a distinção do mérito e do direito da salvação e satisfação.

Passamos a nomear os que devem ser punidos, elegemos os que, parcialmente recebem a expiação da culpa e são também eximidos do pecado. Abertamente e notoriamente passamos a segregar de forma Dantesca os níveis de ocupação desse inferno pessoal e inexoravelmente intransferível. Embora possamos odiar inconscientemente o repúdio à vingança, todavia somente transpomos a mesma quando nos tornamos o objeto e motivo de tal vingança.

Pretensiosamente desejamos ocupar o papel de vingadores, de vitimarmos o nosso amor, de igualmente, travestirmos de alegorias mundanas nossos sonhos, nossas expectativas e nossos pretensos ideais de justiça.

Somos ardilosos, sutis e sorrateiros quando nos vingamos. Usamos a palavra com maestria e precisão cirúrgica e parecemos prescindir da culpa, da moral cobiçada e existencial.

O filósofo Martin Buber, consciente nos diz que “existe a culpa real”, que há valor no “coração sentido que censura”, e que a reparação, a reconciliação, a renovação exigem uma consciência “que não foge da visão das profundezas, e que quando censura procura o meio para atravessá-las...”

“O homem”, diz Buber, “é o ser capaz de se sentir culpado e capaz de iluminar sua culpa.”

A vingança explícita ou implícita antecede a culpa, a reflexão. Instintiva, elenca sua existência justificada na preservação e manutenção da honra, dos direitos – exercidos, ou não.

Arma-se de um pretenso direito adquirido e pode ser cozida em fogo brando. Sem pressa, silenciosa e assustadoramente real.

Traz consigo certa crueldade latente, visceral e sedutora. Goza-se de um prazer que transcende os escrúpulos, as raias da realidade. Direitos se tornam subjetivos e só vislumbra-se o ato, a vingança pura, simples, dissimulada e ou totalmente declarada.

O que ela (a vingança) está dizendo é que a liberdade e prática começam quando reconhecemos o que é possível – e o que não é. Parte-se do pressuposto, que essa vingança, está nos dizendo que, se chegarmos a conhecer a natureza da nossa insatisfação e atitude, poderemos impor nosso destino sobre a anatomia de nossas intenções & ações.

Sob essa perspectiva, novas abordagens e variações sobre a vingança e sermos vingados acontecerão:

Seremos vingados quando silenciarmos sobre essa geração que raciocina demais para poder ser feliz e bonita. Uma linha tênue irá separar e ao mesmo tempo conectará os motivos e suas respectivas origens. Desvanecer-se-ão os paraísos artificiais e igualmente os arquétipos caricatos.

Passaremos a nos vingar do prazer coletivo quando vivermos à margem, quando representarmos a antítese da vigência e unanimidade tacanha.

Serão aliados à doce vingança: a ironia fina, estudada, inteligente e perfectível.

A vingança igualmente se travestirá de vergonha alheia. Será vaidade despretensiosa, calculada e simetricamente ajustada.

Gozaremos desse prazer sempre que as máscaras caírem, que a verdade vir à tona, sempre que formos reconhecidos pela atitude, pela intrepidez, pela postura e pela honradez.

Sim, nos vingaremos sempre que a justiça for feita, conquistada e estabelecida. Quando, também, a palavra encontrar seu Norte e definir a idiossincrasia das relações humanas.

Seremos vingados quando a unanimidade cega reconhecer que errou, que elegeu candidatos adaptados às necessidades individuais e ou de um grupo de interesses escuso.

É chegado o momento em que devemos optar: curiosidade pela descoberta infinita da vida, seus prazeres sensíveis, suas alegrias selvagens, ou a vingança eminente da vergonha eterna.

Culpa – opte você!

Faz-se silêncio.

Gilbert Antonio

Outubro 2010

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