Conexões imperfeitas & Vinganças requintadas
A vingança é uma espécie de justiça selvagem.
Francis Bacon
Definitivamente há certas sutilezas escancaradas e inconscientes vinganças nas relações humanas. Há muito amor amado para que não se possa odiar depois. Tais sutilezas estão entrelinhas, subsistem e coexistem com tal requinte de crueldade. Disfarçadas ou não, se esgueiram sutis e comungam de prazeres que demandariam sessões homéricas de psicanálise.
Parecemos vingar-nos, primeiro, porque se pôs fim à nossa separação, depois porque o nosso vazio não foi preenchido, em seguida, porque não fomos correspondidos e nem tampouco nos foi dada a distinção do mérito e do direito da salvação e satisfação.
Passamos a nomear os que devem ser punidos, elegemos os que, parcialmente recebem a expiação da culpa e são também eximidos do pecado. Abertamente e notoriamente passamos a segregar de forma Dantesca os níveis de ocupação desse inferno pessoal e inexoravelmente intransferível. Embora possamos odiar inconscientemente o repúdio à vingança, todavia somente transpomos a mesma quando nos tornamos o objeto e motivo de tal vingança.
Pretensiosamente desejamos ocupar o papel de vingadores, de vitimarmos o nosso amor, de igualmente, travestirmos de alegorias mundanas nossos sonhos, nossas expectativas e nossos pretensos ideais de justiça.
Somos ardilosos, sutis e sorrateiros quando nos vingamos. Usamos a palavra com maestria e precisão cirúrgica e parecemos prescindir da culpa, da moral cobiçada e existencial.
O filósofo Martin Buber, consciente nos diz que “existe a culpa real”, que há valor no “coração sentido que censura”, e que a reparação, a reconciliação, a renovação exigem uma consciência “que não foge da visão das profundezas, e que quando censura procura o meio para atravessá-las...”
“O homem”, diz Buber, “é o ser capaz de se sentir culpado e capaz de iluminar sua culpa.”
A vingança explícita ou implícita antecede a culpa, a reflexão. Instintiva, elenca sua existência justificada na preservação e manutenção da honra, dos direitos – exercidos, ou não.
Arma-se de um pretenso direito adquirido e pode ser cozida em fogo brando. Sem pressa, silenciosa e assustadoramente real.
Traz consigo certa crueldade latente, visceral e sedutora. Goza-se de um prazer que transcende os escrúpulos, as raias da realidade. Direitos se tornam subjetivos e só vislumbra-se o ato, a vingança pura, simples, dissimulada e ou totalmente declarada.
O que ela (a vingança) está dizendo é que a liberdade e prática começam quando reconhecemos o que é possível – e o que não é. Parte-se do pressuposto, que essa vingança, está nos dizendo que, se chegarmos a conhecer a natureza da nossa insatisfação e atitude, poderemos impor nosso destino sobre a anatomia de nossas intenções & ações.
Sob essa perspectiva, novas abordagens e variações sobre a vingança e sermos vingados acontecerão:
Seremos vingados quando silenciarmos sobre essa geração que raciocina demais para poder ser feliz e bonita. Uma linha tênue irá separar e ao mesmo tempo conectará os motivos e suas respectivas origens. Desvanecer-se-ão os paraísos artificiais e igualmente os arquétipos caricatos.
Passaremos a nos vingar do prazer coletivo quando vivermos à margem, quando representarmos a antítese da vigência e unanimidade tacanha.
Serão aliados à doce vingança: a ironia fina, estudada, inteligente e perfectível.
A vingança igualmente se travestirá de vergonha alheia. Será vaidade despretensiosa, calculada e simetricamente ajustada.
Gozaremos desse prazer sempre que as máscaras caírem, que a verdade vir à tona, sempre que formos reconhecidos pela atitude, pela intrepidez, pela postura e pela honradez.
Sim, nos vingaremos sempre que a justiça for feita, conquistada e estabelecida. Quando, também, a palavra encontrar seu Norte e definir a idiossincrasia das relações humanas.
Seremos vingados quando a unanimidade cega reconhecer que errou, que elegeu candidatos adaptados às necessidades individuais e ou de um grupo de interesses escuso.
É chegado o momento em que devemos optar: curiosidade pela descoberta infinita da vida, seus prazeres sensíveis, suas alegrias selvagens, ou a vingança eminente da vergonha eterna.
Culpa – opte você!
Faz-se silêncio.
Gilbert Antonio
Outubro 2010
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