quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O Medo de Sentir Prazer

Somos filhos de uma sociedade que perdeu o norte?!Na verdade, somos as insuspeitas obviedades das contradições entre o desejo e uma felicidade que não se alcança nunca.

Precisamos ter coragem de desejar, para querer, pois nos é ensinado e igualmente imposto uma maneira formatada de reconhecer os sintomas psicossociais à realidade da epidemia de depressão e perda de referências claras, típicas da pós-modernidade.

Proponho que mexamos na ferida para obtermos a absolvição dos pecados do prazer em ser feliz desta maneira.

De fato existe uma distância entre a pessoa e o mundo; entre o que é desejado e o que é idealizado. Mimetizamos o conceito humano do que intencionávamos ser e do que realmente nos tornamos e, por fim, o que somos. Quando eu emito uma vontade, eu obtenho uma resposta – que é sempre insatisfatória. Existe um menos daquilo que eu peço o objeto do meu querer, e aquilo que eu recebi. O discurso é sempre incapaz de transmitir aquilo que eu quero, pois o que desejo demanda diferentes necessidades.

Este mal-estar atual pode ser identificado como “desbussolamento”. Perdemos o Norte e com ele, foi igualmente perdido a versão onírica de todos os sonhos possíveis e realizáveis.

Com a globalização as pessoas sofreram de despadronização de suas respectivas formas de ser. A tão propalada e defendida fórmula dos anos 90 ”Agora eu posso ser aquilo que eu quiser” caiu em desuso devido aos adventos do retorno ao falso moralismo. Um recuo claro no sentido de conter o incontrolável. Um busca pelo ser Onipotente e onipresente em busca de respostas e preenchimentos formaram séqüitos sem o oásis prometido.

A perda notória de referências de uma sociedade anterior verticalmente orientada - uma sociedade que possuía valores e objetivos comuns como: constituir uma família, ter uma empresa. O próprio país tinha uma estrutura de pirâmide.

Dos anos 60 para cá, pulverizamos os padrões. Não há necessidade real de rebelar-se, porque horizontalizamos o laço social. Nem tampouco, temos necessidade da garantia em reconhecer o padrão e nem colocar nossa felicidade de acordo com o modelo proposto. Nos anos 60 o futuro era bastante previsível e ajustável, de acordo com as facilidades de escolha, até porque haviam igualmente poucas escolhas. No momento atual, inventamos o futuro e podemos inclusive adaptá-lo às nossas necessidades.

Nossa nova sociedade é flexível e horizontalizada. Esta mesma sociedade que teve o poder de dissolver os limites em parte pela globalização, a qual transformou a identidade das pessoas e em parte pelo confronto constante com o outro. Estas duas diretrizes mudaram esta lei, perdendo com isso a identidade. Vivemos a depressão pós-mudança, pois nos foi ensinado ou sugerido pensar o pior de nós mesmos quando perdidos nos encontrássemos. Tudo o que imaginávamos, acreditávamos simplesmente sucumbiu, pois num hiato, num segundo tudo se perdeu.

A depressão tomou lugar e se estabeleceu silenciosa entre o excesso de fórmulas para o prazer. Surgiu nestes escapismos uma demanda solta de satisfação e sem nomeação. É como se precisássemos sempre de algo maior, mais desafiador, mais exato para uma felicidade temporária; na verdade, um acesso facilitador universal. Ou seja, daí eu tenho acesso à felicidade, não importa a referência, apenas o resultado imediato desta necessidade.

É chegado o momento de refazermos toda a vida social, pois tudo o que sabíamos não funciona mais – as formas como percebemos a vida, o trabalho, a sociedade, o estudo, a morte não se adaptam mais às necessidades vigentes. Refiro-me aqui a uma sociedade vanguarda, sedenta de um novo caminho para permear a vida e os sonhos. Falo de uma sociedade que precisa reinventar o espaço social dentro da globalização. Há novos laços sociais se formando, que pode responder a um tipo de prazer despadronizado, que está isento de sua interrupção pela depressão, pelas drogas, pelos fracassos e mazelas sociais.

Ao contrário das gerações anteriores e autistas esta é uma geração mutante, com monólogos articulados. Não há necessidade de estar próximo para obter compreensão. A base do amor não está no entendimento, mas ironicamente na forma expressada e revelada por esta geração. Podemos ter mais, sentir de forma diversificada sem, entretanto, solidificar e perdurar tal ideal. Relações horizontalizadas demandam cobranças de entendimento enquanto que relacionamentos fundamentados nesta mutação fundamentam-se essencialmente no afeto da globalização: Amizade.

Sugiro uma desautorização do sofrimento prêt-à- porter, como o ideal de beleza, anoréxico, o conceito e rigor estético apregoados pelos ditames atuais. Abaixo aos locais de felicidade pronta como Disneylândia – formas padronizadas de sofrimento. São péssimos curativos e meros paliativos. Precisamos respostas, soluções a essa miséria pronta, formatada e atual.

Possuímos uma sociedade hedonista, embora repleta de neuróticos e obsessivos que não conseguem se relacionar com o prazer, pois têm medo.

As pessoas desbussoladas, segundo Jorge Forbes, tendem ao medo de viver esse novo modelo de amor que a atual sociedade exige. São mais facilmente capturáveis pelos livros de auto-ajuda ou pelo primeiro objeto que lhe é ofertado, e aí consomem, porque acham que assim vão ficar bem.

O nosso prazer ainda se concentra em demasia em elementos de consumo. Este consumo é o que vivenciamos, tem na base uma covardia de responsabilidade por aquilo que se quer ou igualmente se procura. Um novo par de sapatos, um carro melhor, um novo apartamento passam fundamentar e determinar o grau de nosso prazer. Prazeres efêmeros e recepcionistas da Ilha da Fantasia. O que nos torna infelizes é desejar, uma vez o obj to de nosso desejo não realizado nos tornamos miseravelmente infelizes.

A sociedade de consumo tende a conviver com uma sociedade mais vanguarda que sabe que o novo amor, diferente do amor em nome dos conjuntos e vínculos tradicionais dispensa os argumentos que instalaram grandes doses de silêncio em nossas vidas e incitar-nos a viver a responsabilidade de dizer: quero esse amor e pronto.

Vivemos um novo processo no caminho da articulação de nossas solidões, talvez por isso a amizade, seja hoje, o grande ícone dos relacionamentos e solidariedades. Subsistem e se fundamentalizam. Tal articulação e conseqüência nos exigem a coragem de nos responsabilizarmos pelo que desejarmos e como incluirmos em nosso mundo pessoal, coletivo e co-participativo. Sabemos que nós, que, nos responsabilizamos pelos nossos próprios desejos, construiremos a base do prazer através do que vivenciamos, ao quanto nos comprometemos nesta transformação e obtenção.

Podemos apontar caminhos até então, insuspeitos e viver a natureza do prazer isenta de obviedades tacanhas.

Gilbert Antonio

Escritor, publicitário e artista plástico

Domingo, 28 de outubro de 2007.

12 horas e 39 minutos

My inner place.

Um comentário:

Unknown disse...

O ser humano é insatisfeito, essa insatisfação nos leva a perder a essência da vida, dos valores reais, nunca estamos contentes com nada, morreremos insatisfeitos procurando por algo que não existe, na verdade existe e foi criado muito antes de nós mesmos, está dentro de nós, está na essência da vida, na essência do existir na força do universo, que esta ligado diretamente ao que pensamos e fazemos, a pura e simples felicidade, mas o que é felicidade? Felicidade é encontrar a paz, a alegria em algo que não se compra com dólar, euro, real, peso ou qualquer outra moeda criada por nós mesmos para tampar um buraco em nosso ego. Para nos deixar mais fortes, forte? Nós já somos fortes, mas me diga? Quem pode julgar? Como um semelhante pode julgar outro semelhante? Como podemos dizer isso ou aquilo para outra pessoa que é igual a nós mesmos. Isso não existe!!! Então onde esta o erro? Novamente morreremos sem saber.