quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Conto: Encontros Inevitáveis...........................................

*Escrito para confrontar a visão torpe que ainda paira ameaçadora sob cabeças menos privilegiadas.


Encontros são inevitáveis, acontecem amiúde. Possuem a velocidade da luz e arrebatamento de segundos com conseqüências irreversíveis e irremediavelmente encantadoras.

Eu, Raul. 40 anos, incorrigível sonhador, professor e louco em dias melhores. Homem de sorrisos, de dores antigas, de poesias empoeiradas e vontades costumeiras. Neurótico e narcotizado pela fobia social.

Ele, Santiago. 25 anos e tantos, não há como precisar. Santiago, jornalista, neurótico, nervoso, ávido e fumante. Magro, longilíneo e plenamente existidor – Um clássico estereótipo crucificado.

Dois hiatos, duas feridas abertas, sangue exposto, corpos sedimentados... Trágico? Não, pois esta é a vista do ponto que tu alcanças quando palavras avançam silenciosas e afiadas sucumbindo o teu bem maior: a compreensão e a adaptação da realidade. Não divagues. Retomemos.

Sim. Distintos, Raul 40 anos e Santiago 25, são machos, são homens de cheiros agridoces, madressilva, cidreira, marcela, tabaco e etílicos (seriam anjos etílicos?)

PS: Não busque lógica ou compreensão de jargões psicológicos, apenas o exercício infinito de sentir e exaurir possibilidades eximindo toda a culpa de encanto e arrebatamento.

Embora separados, embora distintos, a linha tênue e infinitamente devotada deste mundo conspirava para este encontro de iguais, de machos, de homens.

Um encontro de encantadores de serpentes, de espíritos indômitos, de príncipes das marés... Um encontro enfim, de pessoas que se entendem, se curtem, confortam, desejam e... Tudo aquilo que nos quartos escuros e baratos acontecem como o nosso consentimento, com a nossa participação, com nossa vergonha compartilhada, mas feliz.

Ambos, Raul e Santiago mergulhavam profundamente e unicamente, redesenhando-se um ao outro e desnudando o universo oceânico.

Eles presumiam ou pelo menos assim imaginavam poder capacitar e revelar uma explosão de cores, formas e texturas quando se encontravam, quando se abraçavam ,abraçando a vida de parecia existir independente de tudo, até mesmo deles dois. É assim que podemos chamar de uma perfeita tradução intimista dos elementos gerados pela natureza e, para onde os mesmos igualmente retornam.

Suas mais rebuscadas viagens ao interior exposto culminam em composição visionária, capazes até mesmo de transcender o desconhecido e não-interpretativo os quais nós estamos irremediavelmente atrelados.

Segundo Raul sabia-se o recorte feito pela desconstrução e renascimento dos fragmentos do mar, onde Santiago sabia-se igualmente o composto do imaginário dessa intimidade cobiçada, desejada, compreendida de encontrarem-se, despindo-se dos medos, das amarras, das teias silenciosas e imprecisas, de tudo o que os circundava do exercício exaustivo de retornar em suas respectivas assombrações a existência sugerida de morte e vida. Ambos imprimem neste presente encontro, uma contribuição singular.

Um encontro construído em cima de muitos desacertos e desacatos, porém um encontro visceral que registrava em toda sua beleza e veracidade a própria vida – escarrada, impassível e irrepreensível.

Raul e Santiago possuíam além de sua seqüência alfabética o inimaginável encontro e este também era puro confronto, batalha e reencontro.

Descansavam em si vontades alheias. Eram ícones de uma geração que degenerou a vida e banalizou o amor. Não eram mártires, nem tampouco estandartes de um movimento, gueto ou tribo – Raul e Santiago sabiam-se ali, sabiam-se intransigentemente fieis à causa, ao amor inominável.

Neles, residiam factuais e subjetivos desejos, frustrações e fissuras emocionais. De carne e osso Raul e Santiago desenhavam um ao outro, desenhando a própria vida, auto-definição da própria vida.

Representavam teus e meus desejos em suas formas mais tenras, semelhantes, dissonantes e inexoráveis.

A relação construída e intensa destes homens seria densa e intensa como um domingo tórrido de verão, abrasivo, insuportável... Seria também uma terça-feira poeticamente fria, reveladora, dessas que, escolhemos caminhar ao lado de alguém de mãos dadas, de cumplicidades aceitas, de amor incontrolavelmente avassalador.

Tais elementos eram co-autores na idealização e finalização. Eram também o ressentimento e a inveja de muitos, que como eles – Raul e Santiago ousaram viver e experimentar a natureza envolvente de dois homens, de duas pessoas irremediavelmente corajosas.

Há, na presente arquitetura deste envolvimento perguntas que não se podem calar:

O que fica de tudo isso?

Seria a consumação efêmera de nossa participação no ciclo vital e seu inexorável término?

Raul e Santiago se complementavam.

Ora representavam o desejo audaciosamente avassalador, ora tímido e explicitamente assustador.

Sabiam que encantavam serpentes, sabiam-se príncipes das marés. Ambos, homens de letras, exigiam os venenos mais fortes. Revelam em seus furtivos encontros, medo & êxtase, vontade e vergonha. Uma mistura inteligente de homens e pêlos, de hombridades e acertos.

Quando se abraçavam, abraçavam a vida, vontades veladas, sacrificadas. Residia em ambos essa vontade louca sem rumos, sem muitas formas. Essa vontade que sufoca, angustia, porém é inevitável, voraz, devorada por ambos a cada dentada, a cada encontro.

Raul e Santiago experimentavam-se, testavam-se... Sabiam do encontro inevitável. Sabiam que poderiam negar, justificar, dar outros nomes, entretanto o que sentiam transcendiam estas explicações medíocres demais.

Em suas raras e furtivas conversas havia uma grande cumplicidade, um desejo de encontrar, de parar o tempo, de desfrutar da recusa, do medo e viver inteiramente e intensamente.

Sob a influência das coisas graves, dos ranços, dos compromissos até então assumidos, com efeito, a ironia ou o abandono por si mesmo (se tiver sido algo de ocasional) ou então se reforçaria (caso lhe pertença como coisa inata) num encontro sério, enquadrando-se no conjunto dos meios com o que ambos deveriam moldar suas formas, seus desejos mais íntimos, suas vontades mais loucas.

O encontro indômito de Raul e Santiago ficará na memória como intervalo, como contribuição onde o objeto e composição observada, revelando um pouco do muito que há oculto. Revelando acima de tudo, O Retorno – Um compromisso do amor maestro em responder e acelerar a ambigüidade da vida e da morte, que, aglutinadas, sugerem a visibilidade aos olhos afoitos, aos corações sedentos em re-ler façanhas destes grandes homens Raul e Santiago, que igualmente vislumbram a infinita possibilidade de encontros de formas, de peitos, de forças, de beijos batendo contra os dentes, os lábios e bem depois, do despirem-se, do duelo de espadas penianas de corpos revelados, desnudados, abertos, de dentro para fora, revelando muito mais do que pode ser dito ou expresso por eles mesmos.

Que fique claro: Não há invencionices. Há, entretanto, encanto ensurdecedor que sugere silêncio.

Raul e Santiago sabem disso, eles podem negar, eles podem dar continuidade ou então, ausentarem-se da responsabilidade, do sentir, do experimentar e vivenciar esta relação que se exime de rótulos e preconceitos e finalmente, podem calar, negar, excluir sem jamais viver o que por medo foi rejeitado, e nem tão pouco ter a oportunidade de ser feliz com o outro e pelo outro, fadando o encontro deste em separação e trancafiado nos porões de uma geração que raciocina demais para ser bonita e sincera.

Alegria Selvagem – Opte pelo infinito lume da vida ou então o peso torturante da vergonha eterna.

Raul e Santiago aguardam... Ansiosos, mordem seus lábios maduros, devorando a cada dentada, esse encontro, com efeito, devendo ser um mundo para ambos e encontrando para eles mesmos e neles esta natureza que se aliou e revelou então o amor está escarrado, impresso inexoravelmente nos olhos de cada um deles.

Gilbert Antonio - Word Maker






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